Empreendedores, colaboradores e negócios crescem juntos: a filosofia de Zagonel

Sabe aquela cidade que fica no interior do interior? Pinhalzinho é assim: fica ainda mais “longe” se comparada a Chapecó, que está – como sabemos – na “periferia” quando olhamos para as capitais do Sul do país. Mas Roberto Zagonel transformou um fator de limitação em uma vantagem.

Buscou conhecimentos, teve coragem para inovar e contou com pessoas. Cresceu e pretende, com os talentos de quem é colaborador, crescer ainda mais. E faz questão de reforçar que quer ver todos crescerem com seu negócio, a Eletro Zagonel.

O Linkou ouviu o empresário em uma palestra promovida pelo Sebrae, em Chapecó, e aproveitou para fazer algumas perguntas. A entrevista, inclusive, foi mais uma aula:

Que erro ou equívoco o senhor acha que foi fundamental para crescer enquanto empreendedor?

Tem vários! A gente vai lembrando do passado e percebemos que é normal cometermos erros.Por exemplo, assim, uns foram investimentos sem pensar, sem fazer um plano no negócio.
Hoje o maior erro das pessoas ou empreendedores é que quando você faz um investimento, um negócio, sem planejá-lo de fato. Na época não tinha esse conhecimento, então a gente errava demais por esse fator. Pensei que no achômetro poderia fazer algo promissor, que ganharia muito dinheiro, e na verdade não era aquilo.
Houve projetos que a gente desenvolveu e que não foram para frente por esse motivo. Preços exorbitantes ficaram fora do mercado, e a gente teve que retroagir, reformar, refazer os produtos
para que a gente conseguisse se integrar no mercado. Então, penso que foram erros assim, por falta de planejamento.


O senhor mencionou que em um momento de uma disputa comercial entre empresas que naquele momento competiam com a Zagonel, houve um tempo que o senhor ficou preocupado com o andamento da empresa, meio sem saber para onde ir. E a saída foi buscar pessoas da sua confiança para construir uma solução. Como é que o senhor acha que é essa troca, e até uma certa demonstração de uma fragilidade, contribuiu também para o crescimento da empresa?
É que quando você percebe que está frágil em algum aspecto e você busca pessoas para te ajudar,
você tem que fazer uma analogia junto. Primeiro, escolher a pessoa certa para que ela te aconselhe,
ela tem que ter o conhecimento suficiente para que te agregue algo diferente. Mas a grande diferença é que você tem que se abrir mais para o consultor, por exemplo, uma consultoria, tem que abrir mais o jogo para o consultor, detalhar, expor as possibilidades, as metas, o que você sonha para que ele consiga te ajudar. Muitas vezes ele talvez vai ajudar olhando muito tecnicamente e não ver a parte mais social, a parte mais sensível do negócio. Por exemplo, quando uma empresa não está bem, se você vai começar a demitir pessoas, você pode estar demitindo as melhores pessoas que vão te tirar do negócio. Então, tem que saber exatamente o momento certo de contratar a consultoria, mas ela tem que ser uma consultoria que te agrega, que te ajude, porque você enfraquecer o negócio ou tirar pessoas importantes do negócio, você pode enfraquecer e nunca mais suprir essas pessoas mais importantes, porque elas estão aí, o mercado pessoal.

E quando essas pessoas são colaboradores, são internos, geram uma diferenciação na confiança que essas pessoas têm, a confiança mútua da empresa e do empreendedor com esses colaboradores e dos colaboradores com a empresa e com o empreendedor?
A valorização das pessoas tem que ter em todos os aspectos, o de primeiro escalão até o último escalão. Acreditar em pessoas e demonstrar que você tem a confiança faz com que elas realmente dão o melhor. Se você não demonstra que tem essa empatia, elas talvez não te ajudem a agregar tanto no negócio. Então precisa demonstrar que você tem confiança que você acredita nelas. E desafie elas, porque muitas vezes a gente subestima a capacidade das pessoas e muitas aí estão as soluções.
Muitas empresas buscam lá fora e têm em casa, então tem que dar oportunidade para as pessoas demonstrarem o que elas têm capacidade para fazer.


O senhor mencionou que um problema trouxe uma descoberta de um novo mercado em determinadaocasião. Como, em momentos de crise, as empresas podem superar essas dificuldades e ainda crescer com isso? E que características o empreendedor precisa ter para seguir, persistir, superar e tornar justamente esse momento de crise o momento de salto para aquela empresa?
Todo empreendedor tem que saber o que está fazendo, tem que conhecer pelo menos a atividade que está fazendo. Conhecendo a atividade e fazendo com que ela realmente seja discutida de vários aspectos, você consegue mensurar melhor.
Todo empreendedor tem que realmente fazer cálculos, tem que fazer planos tributários, planos estratégicos, fazer um plano do negócio, entender o negócio, porque muitas vezes, em uma crise, o empreendedor precisa ter várias visões para poder achar saídas, talvez numa brecha de oportunidade.
No caso de um mercado que estava brigando, o mercado nos atingiu e nós fomos por uma visão diferente. É onde nós achamos o Mar Azul, é onde tivemos a oportunidade de crescer muito através desse produto, porque a gente viu esse aspecto.

Para isso, você tem que ter conhecimento, tem que ir em feiras, tem que buscar, tem que visualizar isso, o empresário tem que estar enxergando atrás da curva, sempre atrás da curva, porque qualquer dificuldade você tem que absorver melhor e criar saídas alternativas.
Se você só fica naquele teu mundinho, qualquer adversidade você não consegue imaginar uma saída melhor, não está preparado para você absorver isso, você tem que estar estudando.


Nesse sentido o senhor falou que em vários momentos da sua trajetória buscou mais conhecimento, buscou networking em feiras, buscou aprender inglês para se virar nas feiras, aí buscou também financiamentos, buscou formas de investir mais. O que mais o senhor acha que o empreendedor precisa buscar?
O empreendedor não precisa saber de tudo, mas ele tem que saber quem possa te ajudar, quem sabe.
Eu não tenho preparação universitária, mas eu tenho uma faculdade da vida, mas eu sei quem buscar para me ajudar. É preciso se aliar aos bons. Buscar pessoas também.

Eu sempre falo que se você estiver num lugar onde você é o mais sábio, você não vai agregar em nada a sua vida, você tem que se resguardar ou ficar junto com pessoas que você é o menos sábio.
Aí você só absorve informações, aprende com os outros, porque claro, é bom também você passar informação, mas não somente isso, tem que estar aliados aos bons, siga-me aos bons que o negócio funciona.


O senhor diz que valoriza muitas pessoas, e dá para perceber, pelo que o senhor conta, que as pessoas foram muito importantes na sua vida, enquanto empreendedor e da empresa. O que o senhor deseja para quem trabalha com o senhor?
Eu desejo que eles fiquem ricos. Quanto mais eles conseguem prosperar, automaticamente essa prosperidade se divide em vários aspectos. Então, a valorização das pessoas que nos ajudem a crescer, ela tem que ser parte devolvida.
Tem que repartir! O quanto mais nós doamos, mais nós recebemos. Então, quanto mais eu valorizo o meu colaborador, mais ele vai dar retorno para o negócio. Porque eu preciso de pessoas empreendedoras do meu negócio, não empreendendo lá fora.
Eu gosto de pessoas que empreendem e valorizo essas pessoas, mas se eu puder segurar as pessoas que vão empreender, que querem empreender lá fora, por que eu não vou segurar elas internamente? E fazer o meu negócio e eles crescerem junto, intelectualmente, financeiramente. Porque não adianta, enquanto uma empresa que o patrão é rico, anda de BMW e os outros estão a pé, existe uma desigualdade, a conta não fecha.
Fora que dá uma satisfação poder crescer e ver uma ideia implantada, mesmo que a empresa não seja sua, é muito interessante.


Quais as limitações e quais as oportunidades de inovar no interior?
Inovar no interior é complicado, mas não é impossível. A gente tem que pensar que se é possível inovar ou empreender numa capital, num centro de inovação, por que não pode ser inovado numa cidade pequena? Não tem empecilho nenhum, é só querer, ter vontade, se preparar.
Ter “voia”, que nem os italianos dizem, é “voia”!
E você precisa demonstrar que você tem interesse em querer fazer. Se você quer fazer, você vai lá e faz.E no interior tem menos concorrência para inovar.
Se eu pensar assim: vamos fazer uma luminária em Pinhalzinho. Por que não? Nós nascemos com as mesmas possibilidades de pensamento, de inovação e criatividade.

A gente tem uma síndrome de vira-lata às vezes, né?
Exatamente! Mas é possível, nós podemos. Eu sou prova disso.

O que o senhor acha que são os principais pontos para uma sucessão de sucesso? O senhor já está fazendo isso… Que pontos que o senhor acha que são principais na sucessão?
Primeiro você tem que valorizar teu filho, dar oportunidade para que ele cresça junto, dividir os anseios, as coisas boas, mas também passar as coisas negativas do negócio. Ele tem que estar integrado, tem que estar ajustado com o processo.
No momento que ele sentir integrado, que ele sentir dono do negócio, ele vai prosperar e vai crescer junto, porque ele vai esperar que aquilo seja dele, e ele vai ser dele, dos filhos no caso. E falo dele, mas é das pessoas que trabalham, que são sucessores.
O grande problema que muitos empreendedores fazem é centralização demais, não deixam que os filhos tomem atitude, não deixam que eles ajudem a administrar ou dividir as cargas, e ele se sente isolado e diz: “ah, eu não vou ficar me matando para o pai não me dar nada”.

Muitas vezes a gente perde para o mercado o próprio filho, porque o mercado paga mais que o próprio pai. Ele tem que ser valorizado, ele tem que sentir que a empresa valoriza tanto quanto um profissional que está na empresa.
E essa valorização é não só financeira, mas também de ideias, que as ideias dele também sejam ouvidas. Divergência de pensamento entre pai e filho, entre gestores, isso sempre vai existir.
O que tem que fazer é discuti-las e ver os prós e os contras, as vantagens e desvantagens de cada ideia.
Se você não consegue chegar em uma questão comum, busque ajuda, busque uma consultoria para que essa ideia seja avaliada.
Agora, você nunca pode menosprezar uma ideia, qualquer que seja a ideia, por mais boba que ela seja, ela pode ser o começo de uma excelente, de uma ideia gigantesca.
Muitas vezes um colaborador diz que é simples, que não tem ideia. Mas qualquer ideia que ele dá pode ser incrementada por segundo colega; o terceiro segue aprimorando e, quando vê, tem uma terceira, quarta ideia. Ela se torna gigante potente, mas a primeira ideia, mesmo simples, foi o começo, desencadeou um raciocínio lógico.

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