Uma habilidade valorizada há muito tempo no mundo corporativo – e que provavelmente continuará sendo – é a comunicação assertiva. Quem é ou pretende ser uma liderança, precisa se comunicar com clareza e respeito, buscando ter uma resposta ou um retorno de seus interlocutores.
Nas pessoas tímidas ou com dificuldades em se expressar, a comunicação assertiva pode ser um desafio. Por isso, talvez o ideal seja necessário iniciar o desenvolvimento dessa habilidade bem cedo, na infância, na pré-adolescência ou no início da adolescência.
Quinze jovens iniciaram bem essa jornada: foram finalistas do projeto “Oratória nas Escolas”, promovido pela JCI pela 15a vez em Chapecó. Porém, o projeto tem uma amplitude ainda maior se observado o impacto no total de participantes: foram 839 inscritos de 26 escolas (24 municipais e duas estaduais). Cada escola teve um campeão, e os 26 participaram da semifinal no início de junho. Destes, 15 foram à grande final municipal.
O cenário e os personagens
Em um palco que parecia enorme para pessoas tão jovens, foram as crianças e adolescentes que se agigantaram com a demonstração de grande segurança e eloquência, um gestual forte e falas bastante maduras. O microfone não tremeu nas mãos dos finalistas, e o que se viu foi um público completamente atônito com as apresentações.
A final local foi na noite de quarta-feira (26 de junho), no Centro de Eventos Plínio Arlindo de Nês. Os quinze jovens estavam elegantes e alinhados para uma noite de gala. Um momento para aplaudir a coragem, as reflexões e o desempenho nas falas de uma galerinha cheia de motivos para se orgulhar.
Tendo na cabeça o texto que produziram, revisaram e reescreveram com o auxílio de professores, e com as dicas de oratória dos padrinhos (a maioria, membros da JCI), os jovens mostraram que a preparação e os treinos superam o dom.
Quem entende, valoriza a comunicação
“Os últimos estudos mostram que algumas pessoas têm alguma tendência natural a comunicar-se melhor, mas, com certeza, a habilidade de comunicação é algo que se aprende, então é preciso treino, e é preciso de pessoas dispostas. A maneira como nos comunicamos vem mudando, o mercado de trabalho exige uma nova habilidade para comunicar-se. Precisamos nos aprimorar para essa nova realidade”, pontuou o coordenador do curso de Relações Internacionais e professor de Negociação da Unochapecó, Luiz Henrique Maisonnett.
Um dos jurados na final do “Oratória nas Escolas”, ele ressaltou que é fundamental olhar para o mercado de trabalho e compreender o que se espera dos profissionais ou futuros profissionais na habilidade da comunicação.
A apresentadora do Jornal do Almoço em Chapecó e também jurada no concurso, Letícia Ferrari, considera que começar a desenvolver a comunicação desde jovem é um fator de diferenciação para qualquer pessoa.
“Gostaria muito de ter tido a oportunidade, na infância, de participar de um projeto como o Oratória. A comunicação sempre foi uma paixão para mim, então sempre busquei, de outras formas, em cursos, conversando com pessoas, estudando, para entender mais sobre comunicação, para aprender sobre oratória, para aprender a me relacionar, até pelo meu sonho de ser jornalista. Isso, com certeza, me transformou no mercado de trabalho, mas já no momento de entrar na universidade, a comunicação já me destacou”.
Mais jurados que sabem do poder da comunicação
O suporte que gera o fortalecimento de vínculos, além da cobrança da família por um bom desempenho são pontos que, para a mentora educacional e professora, Beatriz Bonadiman, contribuem para moldar o indivíduo.
“É muito mais do que o tempo de apresentação, o carisma. É a coragem de se comunicar com o mundo. Então com certeza será um adulto com mais possibilidades por ter trabalhado essa coragem de se comunicar tão cedo. As gerações y e x eram mais retraídas, mais tradicionais, com hierarquias mais rígidas e acreditava-se que havia um tempo para cada coisa. As gerações z e alpha já se comunicam mais que nós, mas desenvolver isso com técnica é fundamental”.
A Uceff, que patrocina o evento com uma bolsa de estudos na graduação, foi representada pelo coordenador Pedagógico, Gilberto Niederle como jurado. “Acreditamos na realização de sonhos, da transformação de vidas pela educação. Além do exercício da responsabilidade social, esse projeto permite a realização de sonhos dos nossos jovens. Hoje, inclusive, já temos estudantes oriundos desse projeto se graduando em nossa instituição”.
Para Niederle, a noite foi de aprendizado a todos, inclusive a ele enquanto jurado. “Percebi vibração, dedicação, emoção, estudo, e vi que para esses jovens, estar aqui é uma realização. Vi discursos incríveis, tanto do ponto de vista da comunicação, quanto da postura, da mensagem, da conclusão. Aprendi muito, me senti realizado como ser humano”, ressaltou.
Michelle, a campeã
A vencedora da etapa municipal foi Michelle Sofia Custodio Leal, 14 anos, da EBM Sereno Soprana. Em segundo e terceiro lugares ficaram Esthefany Kiliam Narciso, da EBM Fedelino Machado dos Santos, e Kauane Lauxen, da EEB Professora Irene Stonoga.
No Brasil há pouco mais de um ano, Michelle é venezuelana e conta que se adaptou facilmente ao português. Ela ingressou no projeto pela segunda vez, pensando em garantir a bolsa no ensino superior: está indecisa entre os cursos de Arquitetura ou Relações Internacionais. “Uma pessoa que sabe se desenvolver bem na oratória, consegue crescer mais no mercado de trabalho”.
Depois de receber o padrinho na escola, Michelle relatou que, sob a orientação da professora de Português, começou as pesquisas sobre o tema. Depois da revisão e sugestões da professora, ela iniciou os treinos. Da final na escola para a semifinal, ela modificou mais alguns pontos do texto e seguiu os treinos – todos as noites, pelo menos por uma hora. Mas o texto não saía de sua cabeça: “o dia todo eu repetia o texto na minha cabeça”.
O palco não a intimidou. O que a deixou mais tensa foi a espera por sua vez de se apresentar: ela foi uma das últimas dentre os 15 concorrentes. “Quando me chamaram, fui para o palco e falei… normal!” O importante foi o processo: “nunca fui tímida, mas melhorei bastante, aprendendo ainda mais o português e a dar ênfase nas palavras certas”, destacou.
Impactar a sociedade
O presidente da JCI Chapecó, Fabrício Maseto, resumiu o sentimento da entidade na organização e viabilização do Oratória: “o objetivo da JCI Chapecó é impactar a sociedade positivamente. Nossa organização tem a premissa de impactar nossos membros primeiro, para que eles, se tornando líderes, possam impactar a sociedade através de projetos como esses. Nosso muito obrigado a todos que estão aqui nessa noite, porque vocês certamente acreditam no projeto”.
A vencedora da final local representará Chapecó na Final Estadual, que também acontece no município, em 2 de setembro. Quem vencer, irá para a Etapa Nacional, na Convenção da JCI em Maravilha, em dezembro.